Foi assim que conheci Mayakovski. Um amigo, o Juca, já tinha me falado dele nos anos 70, mas naquela época eu não era muito interessado em poesia. Estava começando a trabalhar com teatro resistência e fazia apresentações nas favelas da periferia do Rio de Janeiro. Não tinha tempo para apreciar as coisas boas da vida. E Maiakovisk era uma delas. Só nos anos 80, quando ouvi Gal cantando "amor", com música de Caetano Veloso, é que percebi a beleza, a força e a consistência dos poemas de Vladimir Vladimirovich Mayakovsky.
Mayakovski nasceu na Geórgia, Rússia, socialista, ingressou no Partido Social-Democrático Operário Russo aos quinze anos. Com David Burliuk e mais alguns amigos fundaram o cubo-futurismo. Depois da revolução socialista de Outubro, mostrou solidariedade ao novo regime. Viajou pela Europa Ocidental, México e Estados Unidos e em turnê por seu país lotava os auditórios onde declamava suas poesias. Sempre se chocou com os “burocratas’’ que pretendiam reduzir a poesia a fórmulas simplistas. Morreu em 1930 com um tiro dado por ele mesmo.
Gal Costa
O Amor (Sobre O Poema De Wladimir Mayakovski)
Talvez quem sabe um dia
Por uma alameda do zoológico
Ela também chegará
Ela que também amava os animaisEntrará sorridente assim como está
Na foto sobre a mesa
Ela é tão bonita
Ela é tão bonita que na certa
Eles a ressuscitarão
O Século Trinta vencerá
O coração destroçado já
Pelas mesquinharias
Agora vamos alcançar
Tudo o que não podemos amar na vida
Com o estrelar das noites inumeráveis
Ressuscita-me
Ainda que mais não seja
Por que sou poeta
E ansiava o futuro
Ressuscita-me
Lutando contra as misérias
Do cotidiano
Ressuscita-me por isso
Ressuscita-me
Quero acabar de viver o que me cabe
Minha vida
Para que não mais existam
Amores servis
Ressuscita-me
Para que ninguém mais tenha
De sacrificar-se
Por uma casa, um buraco
Ressuscita-me
Para que a partir de hoje
A partir de hoje
A família se transforme
E o pai seja pelo menos o universo
E a mãe seja no mínimo a
Terra
A Terra, a Terra
Eu
Nas calçadas pisadas
de minha alma
passadas de loucos estalam
calcâneo de frases ásperas
Onde
forcas
esganam cidades
e em nós de nuvens coagulam
pescoço de torres
oblíquas
só
soluçando eu avanço por vias que se encruzilham
à vista
de crucifixos
polícias
(tradução: Augusto de Campos)
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